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Fisiologia: VO2 Máx e Frequência Cardiaca

Se vamos começar um programa de treino com um ou vários lutadores, o primeiro passo é obviamente avaliar o estado físico. E só depois de conhecer o nível em que ele está que poderemos planejar o treino. Sem isso, este mesmo treino já começará errado e podemos comprometer o resultado final almejado.

VO2 – Max. Volume de oxigênio máximo.

O VO2-Max é a quantidade de oxigênio que o corpo transporta em um minuto, irrigando o nosso organismo. Quanto maior a quantidade de oxigênio transportado nesse período de tempo, maior será nossa capacidade cardiovascular. Isto, no boxe, é fundamental, pois a recuperação entre os rounds, no intervalo de apenas um minuto, vai depender do volume de oxigênio irrigado. Por isso, recomendo que continuem lendo este artigo até o final, mesmo que às vezes o mesmo possa parecer meio acadêmico ou excessivamente teórico.
O VO2-Max é medido em Mililitros –quilogramas –minutos, sendo que se multiplicamos pelo peso corporal do atleta teremos a medida em litros. Assim fica mais fácil, certo?

Vamos com um exemplo ilustrativo: um homem saudável de até 30 anos deve ter uma capacidade de VO2-Max de 2 litros – minuto. Ou seja, neste minuto seu organismo recebe 2 litros de oxigênio. Já um maratonista pode chegar a pouco mais de 5 litros por minutos. Deu para entender?

Então, se eu recebo na minha academia um lutador que vai lutar em 9 semanas (no boxe contamos o tempo de treinamento por semanas, e os programas são semanais) e ele tem um VO2-Max de 2 litros, eu tenho que, nestas nove semanas, levar ele ate aproximadamente 3,5 litros e ir testando sua recuperação entre rounds durante as sessões de sparring. Acompanhamos, também, o nível de sua freqüência cardíaca, sobre o que falaremos a seguir. Eu também posso dar uma excelente condição física a um atleta sem chegar a 3,5 litros, porém é importante ter uma meta com este número.

Um exemplo com um lutador muito conhecido no Brasil: Julio César Chavez. Era um lutador de baixa intensidade, avançando lentamente com passos curtos, chegando próximo ao rival e batendo em combinações de três ou quatro golpes fortíssimos. Tomava um tempo, chegava junto de novo e assim por diante. Bem, o VO2–Max de Chavez era de 3,994 l/m. Segundo seu preparador físico (o já falecido, Jose Maria Martin Búfalo) Chavez alcançava esses 3,994 l/m em apenas seis semanas de preparação, algo incrível que explica o condicionamento do mexicano, mesmo que não estivesse com alguma luta marcada. Chavez fazia, como faz até hoje, suas corridas pela manhã mesmo sem estar treinando. Ele confessou que não se sentia bem sem essa corrida diária.
Outros lutadores (os que são treinados pra valer) variam de 3,3 a 3,7 l/m ou mais. Dependerá do organismo de cada atleta e de sua constituição.

Como se mede o VO2-Max? Bem, existem dois métodos: um “certinho”, através da espirometria que se faz em laboratórios das universidades e em centros de treinamento avançados, como em clubes de futebol, aonde possuem um aparelho chamado espirômetro.   Prova com espirômetro

No boxe, ante as dificuldades e carências que todos conhecemos, mesmo nos Estados Unidos fazemos um teste de campo. O teste de Cooper, muito popular entre preparadores físicos de outros esportes, mesmo que certamente não seja tão preciso quanto o espirômetro, é muito bom. Como nota, eu fiz algumas comparações entre um lutador testado no aparelho e depois fiz o teste de campo, sendo que o resultado não deixou uma margem muito grande. Sempre, porém, a prova com o aparelho indicava uma maior capacidade. Por isto, se um treinador tem a oportunidade de fazer o teste no espirômetro, eu o aconselho a fazer, pois este não só mede o VO2 como também dá uma série de diagnósticos, como avaliação de asma, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) ou bronquite causada pelo cigarro, incapacidade funcional, avaliação pós-operatória e avaliação e diagnóstico de doenças respiratórias.

Mas vamos lá. O teste de Cooper se faz em uma pista de corrida ou em uma máquina de corrida (esteira). O atleta vai correr por 12 minutos contínuos o máximo que ele puder. Ao final, mede-se o quanto ele correu e aplica-se a seguinte fórmula:

  VO2 = (Distancia percorrida - 504) / 45

Vamos ao exemplo: meu lutador percorreu nesses 12 minutos 2000 metros. Então:

2000m - 504 /45 = 33.244 mililitro – quilogramas – minutos.

Porem, já acordamos em trabalhar em litros, pois é mais fácil, certo?  Então multiplicamos os 33.244 pelo peso do lutador.

  33.244 x 65 quilos = 2.160 litros/minutos. 

A questão do peso é muito importante. Se dois atletas correm a mesma distância, quem tem maior peso corporal terá melhor resultado. Às vezes fazemos os testes com vários boxeadores ao mesmo tempo na pista. O pugilista de 65Kg faz 2000m e fica rindo do lutador de 85 Kg, que chegou só a 1800m, sem saber que ele está em pior condição. Vejamos: 1800m - 504 /45 = 28.80 x 85 Kg =2.448 litros.

Isto ocorre porque o corredor de 85kg transporta mais peso corporal. Outra dica importantíssima: se o lutador não tem uma mínima condição física por estar muito tempo parado, não se aconselha fazer o teste. Nesse caso, comece com os treinos de corridas e faça o teste somente depois que ele tiver uma melhor condição. 
  Nota: Existem muitos outros testes de campo. O teste de cinco minutos do Dr Garcia Manso, o teste Fischer de 2.500 metros, o teste de Balke, e por aí vai. Todos têm uma sólida base cientifica. Muitos treinadores nos Estados Unidos (eu modestamente me incluo) ficamos com Cooper por muitas razões, porem qualquer deles vai lhes dar uma boa avaliação.

Freqüência Cardíaca

Após sabermos o nível físico do lutador, começaremos os treinos. O próprio teste do Cooper vai nos ajudar também como um medidor de nosso trabalho. Se, no primeiro dia da primeira semana, nosso lutador correu 2000m em 12 minutos, o próximo teste será feito no ultimo dia da quarta semana. Esse teste vai nos indicar quanto avançamos ou não. Devemos lembrar que estamos no período de condicionamento geral, aeróbico, e isto vai nos dizer se devemos seguir o plano prévio de cinco semanas ou se devemos adianta-lo ou atrasa-lo.

Vamos precisar saber qual a freqüência cardíaca máxima (FCM) do lutador para estabelecer os nossos ritmos de cargas. Isto é uma medida de segurança e um guia muito preciso para nos orientar.

Exemplo: No período de preparação geral (PG) aeróbica, o ritmo do treino não deve passar dos 80% da nossa FCM. Explico: se o atleta tem uma FCM de 200 ppm (pulsações por minutos) no PG aeróbico, ele deve manter os picos de 150 - 160 ppm durante os treinos.

A freqüência cardíaca pode ser medida no pulso, no pescoço ou no peito. Porém, acho que todos conhecem o relógio que é também um monitor cardíaco que já vem com cinta. Ele é colocado no peito, quando se deve checar o relógio que mostra segundo a segundo a evolução de sua FC durante o treino.  A freqüência cardíaca máxima (FCM) é o numero máximo a que devemos chegar durante um treino, sendo perigoso passar dele. Atingi-lo não é para qualquer um e por esta razão é que na segunda etapa do nosso programa de treino, Condicionamento Específico, é que se atingem estas marcas, depois de semanas de treino aeróbico na primeira etapa de Condicionamento Geral.

Como saber a FCM?  Vai depender da idade da pessoa. Para isto temos uma velha e eficiente equação:

220 - idade = FCM.

Se o meu lutador tem 24 anos, então:

220-24 = 196 ppm Pronto, agora já sabemos que a FCM de nosso boxeador é de196 ppm, e vamos utilizar esse índice para as distintas etapas do treino.

Aqui vai um exemplo:

Treino aeróbico = 70-80% da FCM = 137-156 ppm

Treino anaeróbico = 80-90% da FCM =156-176 ppm

Treino máximo = 90-100% da FCM =176-196 ppm

Nota: Se o atleta fica muito tempo sem treinar e está muito acima do peso, então os treinos começam com 60-70% da FCM. Esta é considerada a FC certa para a queima de gordura. Estas sessões de treino devem durar uma hora aproximadamente.

Outra coisa bem importante. Esportes de combate têm uma diferença fundamental de outros esportes. Devemos lembrar que, além do esforço propriamente esportivo, os lutadores recebem golpes na cabeça e no corpo e isto cria uma particularidade que faz com que só os treinadores que lidam com isto saibam que às vezes têm que se pular etapas.


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